Encontrar livros ou séries de tv que tenham personagens com deficiência não é uma tarefa fácil. Um personagem que é protagonista então? Quase impossível. Normalmente, quando isso acontece, a série ou livro gira totalmente em torno da deficiência. É quase como se a deficiência fosse a protagonista e não a pessoa que está ali com ela. Special quebra algumas barreiras em relação a isso. Escrita e protagonizada por um ator que tem a deficiência, ela traz à tona assuntos não muito desenvolvidos. Por ser tão diferente, acabei me interessando. E é essa a dica de hoje.
A série Special
Special vai contar a história de Ryan, um jovem gay com paralisia cerebral. A PC dele não é tão forte, de modo que ele anda e vive independentemente. Porém, ele tem problemas para andar e de coordenação óculo-motora, o que faz tarefas simples como abrir cartas ficarem mais difíceis.
Ryan vive com a sua mãe, que cuidou e o acompanhou a vida inteira. Eles são bem próximos, mas Ryan começa a sentir que sua vida é monótona. Então ele arranja um estágio num site para escrever artigos. Lá, ele conhece Kim, uma mulher morena e fora do peso considerado padrão para uma blogueira de beleza e estilo. Ela logo fica amiga dele e o ajuda com as doideiras da chefe, Olivia.
Olivia é uma mulher sem coração que não liga para ninguém. Sua ideia de sucesso é que seus redatores escrevam colunas sobre seus aspectos pessoais mais particulares. Ryan então conta que sofreu um acidente de carro e que poderia escrever sobre isso. O que ele não esperava é que todos iriam achar que seus problemas físicos eram sequelas desse acidente. Ele vê então ali uma oportunidade de ser igual a todo mundo. Afinal, qualquer um pode sofrer um acidente de carro. Ter paralisia cerebral é para alguns poucos.
A Jornada de Special Nessa Primeira Temporada
Como vocês podem imaginar, me identifiquei com Ryan. Não, eu não tive paralisia cerebral nem sou gay, mas a minha deficiência me fez passar por muitas das situações pelas quais ele passou.
Logo no primeiro episódio, numa sessão de fisioterapia, Ryan confessa que sente inveja de um outro paciente. Isso porque o outro paciente era cadeirante e as pessoas conseguiam entender melhor a sua deficiência. Sei que é uma coisa besta, mas isso já me passou pela cabeça. Ter uma deficiência que lhe permite uma certa independência é ótimo, mas também coloca você num limbo dentro das pessoas com deficiência. Um cadeirante tem um lugar definido dentro da sociedade. As pessoas sabem onde te colocar. Alguém que anda, mesmo sem muito equilíbrio, e que consegue fazer as atividades do dia-a-dia com um pouco de dificuldade? Nem tanto.
Não se preocupem, é uma ideia boba que passa pela cabeça da gente. Lógico que não estamos tirando aqui a dificuldade que um cadeirante tem durante o seu dia-a-dia. Nem queremos insinuar que alguém que precisa da cadeira de rodas está muito melhor que a gente. A verdade é que quando a gente tem uma deficiência física, ninguém está melhor ou pior que ninguém. O que nós, pessoas com deficiência temos, são necessidades diferentes para que possamos viver as nossas vidas da melhor maneira possível.
Mas não dá pra negar que passam uns pensamentos bestas às vezes. Somos humanos, fazer o que?
Os Relacionamentos de Uma Pessoa Com Deficiência
Em Special, também vemos bastante a maneira como Ryan lida com seus relacionamentos. Existe a discussão de seus relacionamentos sexuais, como a perda da virgindade. Porém, é tudo feito de maneira natural, o que é ótimo. Afinal, é muito comum que as pessoas pensem que alguém que tem deficiência simplesmente não tem nenhum tipo de desejo sexual. Pessoas com deficiência são vistas ou como dignas de pena ou como santas, na maioria das vezes. Em nenhum desses papéis cabe a ideia de que também querem não só amor, mas beijar e transar.
A amizade de Ryan com Kim é outro ponto maravilhoso na série. Kim é uma blogueira morena (a atriz tem descendência indiana) e é gorda. Mas ela está ali quebrando estigmas e mostrando que é linda e sexy mesmo que fora dos padrões da sociedade. Claro, aos poucos vamos descobrindo que nem tudo são flores e que a imagem que ela passa na internet não é real. Além disso, Kim fala sobre como sente que deve trabalhar o dobro das blogueiras brancas e magras para ter o mesmo reconhecimento.
Outro relacionamento importante da vida de Ryan é com sua mãe. Com ele saindo de casa, ela tem que lidar com a síndrome do ninho vazio e tem que se redescobrir como pessoa, independente de ser a mãe de Ryan. Mas a vida dos dois é tão co-dependente que isso não é tão fácil de fazer e alguns sentimentos que andavam meio soterrados vão começar a aflorar.
Por fim, temos Olivia, a chefe megera. Special em geral é uma comédia com alguns momentos meio embaraçosos, mas Olivia é tão caricata que em certos momentos não parece real. Porém, por incrível que pareça, isso funciona na série. Olivia acaba sendo a pessoa que trata Ryan exatamente da mesma maneira como trata todo mundo, sem dó nem piedade, e isso é algo novo para ele. O relacionamento dos dois vai fazer com que ele encare sentimentos não muito nobres.
Sobre a Série
Espero realmente que Special ganhe uma segunda temporada. Essa primeira é composta de oito episódios bem curtinhos, de mais ou menos 15 minutos cada. A ideia do criador e ator Ryan O’Connell é que uma eventual segunda temporada tenha episódios de 30 minutos, como a maioria das séries de comédia americanas. Além disso, acredito que exista muitos pontos ainda a serem desenvolvidos. E ter uma representatividade assim é algo realmente novo nas séries.
Special está disponível na Netflix.
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Olá
Eu vi o trailer esse fim de semana e achei muito divertida, é legal saber que o ator possuí características do personagem isso mostra mais a realidade da pessoa com a deficiência.
Tenho alguns amigos com necessidades especiais, como esclerose múltipla e sequela de poliomielite, e eu sempre tentei tratar eles como trato os outros, sem regalias, e ouvi de famiares que é justamente assim como eles gostam de ser tratados, mas cada caso é um caso, né?
Um amigo meu me recomendou essa série, coloquei na minha lista.
Me lembrou remotamente o filme Hoje Não Quero Voltar Sozinho que é protagonizado por um rapaz cego e homossexual e o foco também não é a deficiência, ela é só uma parte da história. Muito fofo!
Oi Mari,
Ainda não conhecia essa série e já vai para a minha lista de séries que preciso assistir. Adorei saber que traz tanta representatividade em um personagem, isso é essencial para os dias em que vivemos. Já anotei a dica, pois adoro séries assim. E também já estou na torcida por uma segunda temporada, pois creio que séries assim precisam ganhar mais espaço.
Beijos!
Cada vez mais temos acesso a personagens humanizadas e a enredos que englobam seres humanos completos, incluindo portadores de deficiências. Isso só enriquece a arte e o entretenimento. Fico aguardando para ver!
Oii tudo bem ?
Nossa não conhecia eu estou por fora só que fiquei super curiosa em conhecer a série apesar de ser uma série de comédia acho que ela aborda vários temas importantes sem ser algo pesado algo que faz quem assiste compreender melhor. E pelo fato de ser curta e rapidinho de se ver, irei da uma olhada pra ver se gosto. Obrigado pela dica.
Bjs
Eu vi trailer e fiquei bem interessada, animei mais ainda com sua resenha, os episódios são bem curtinho tomara que a segunda temporada venha com eles maiores.