Olha só, depois de uma Terça Whovian fajuta na segunda-feira, hoje nós teremos uma Terça Whovian no dia certo! *todos batem palmas*. Afinal, no sábado foi ao ar o sexto episódio da nona temporada de Doctor Who, que é uma continuação (mesmo sem ser exatamente uma continuação) do episódio da semana passada, The Girl Who Died.
Algo que me deixou muito, mas muito feliz sobre esse episódio – e isso não é spoiler – foi que ele foi o primeiro em mais de cinco temporadas a ser escrito por uma mulher. O último tinha sido Daleks in Manhattan, exibido em 2007 e escrito pela Helen Raynor, na terceira temporada, ainda sob o comando do Russell T Davies.
Como sempre, depois do “Continue lendo”, o post está cheio de spoilers, então se você quer evitá-los, pode ir parando por aqui e só volte depois de assistir o episódio.
Nesse episódio, nós nos encontramos novamente com Ashildr, interpretada pela Maisie Williams. Mas já se passaram 800 anos e ela está muito diferente. Agora, ela rouba simplesmente porque pode e se tornou uma pessoa fria que não consegue mais sentir empatia por ninguém.
Outra coisa interessante da personagem (que agora se autodenomina Lady Me e que conta para o Doctor que sequer lembrava do nome Ashildr) é que, embora é praticamente imortal, a sua memória é de uma pessoa normal e por isso ela mantém diários para se lembrar de tudo que passou. Lendo seus diários, o Doctor percebe que ela já passou por muitos acontecimentos dolorosos, inclusive perdendo seus filhos na peste negra, razão pela qual ela prefere não ter mais ninguém em sua vida e mantém a memória simplesmente para se lembrar de seu motivo para ter tomado tal decisão.
É interessante observar a construção da personagem: existiram momentos em que ela tentou ajudar comunidades inteiras que no fim acabaram por tentar matá-la, acusando-a de bruxaria; momentos em que ela lutou em batalhas, vestindo-se como homem e ajudando o seu exército (ela explica para o Doctor que com o tempo que tem, pode treinar o bastante para ser a melhor no que quiser); momentos em que se tornou rainha apenas para no final forjar sua própria morte pois estava entediada.
Aos poucos, também são mostrados os motivos pelos quais ela prefere não se apegar a ninguém: seja um marido que a amava muito, mas a quem ela teve que abandonar pois as pessoas começaram a notar algo estranho nela, e depois a quem em sua velhice ela voltava a visitar e ele acreditava que era um fantasma; as próprias crianças que ela é obrigada a ver morrer, vítimas da praga, enquanto com ela continua tudo bem.
Essa construção do personagem, mesmo tendo sido feita em apenas um episódio e portanto de maneira muito rápida, é algo que prende quem está assistindo e faz com que você entenda as razões. Sinceramente, fazia tempo que um personagem em Doctor Who era tão bem trabalhado assim. O episódio despertou meu interesse em saber mais sobre a Ashildr/Lady Me.
As discussões entre a personagem e o Doctor também são maravilhosas. Ainda que os motivos que o Doctor apresenta para não levá-la com ele em suas viagens não tenham me convencido (afinal, ele poderia viajar com ela e mais alguém mortal que mostrasse para os dois o que realmente importa, né?), são argumentações interessantíssimas, principalmente quando o paralelo é com o próprio Doctor.
Gostei muito mesmo de ter uma personagem feminina que teve voz, que é complexa. Faz falta numa série como Doctor Who. A Clara meio que teve isso, mas perdeu sua chance quando teve sua permanência estendida. Atualmente, as discussões acerca da personagem parecem forçadas. Aliás, outro ponto positivo: a Clara quase não apareceu nesse episódio. E veja só: não fez falta.
Talvez eu devesse me aprofundar mais nas minhas opiniões sobre a Clara, mas basicamente o que eu tinha medo que acontecesse se ela não fosse embora no episódio de Natal está acontecendo. Talvez os mais defensores da Clara não acreditem em mim quando eu digo que gosto da personagem ou que eu gostaria de dizer que estava errada, devido a como eu critico a maneira como sua história foi elastecida, mas é verdade.
Mas voltando ao assunto do post, uma das minhas cenas preferidas é quando a Lady Me diz ao Doctor que ele não salvou a sua vida, mas sim a prendeu nela. Quando ele, argumentando que ainda existe muita aventura por ali, leva um “Mas demora um dia para chegar em Kent!”, mostrando que é muito fácil para ele dizer isso quando pode simplesmente fugir e não ter que lidar com as consequências.
E, no fim, é essa a função que a Ashildr acaba tomando para si. Claro, antes de ela entender isso tudo, ela acaba ajudando um alien a quase destruir a Terra inteira ao abrir um portal se utilizando da morte de outro ladrão, em quem ela acaba tendo que usar o outro artefato para salvá-lo da morte e fechar o portal, mas essa história toda na verdade serve apenas como pano de fundo para o conflito principal, que é o da própria personagem.
Aceitando cuidar daqueles que o Doctor deixa para trás e assumir a função de limpar as besteiras que ele faz, Ashildr encontra um motivo para continuar vivendo sua vida sem fim. E isso também é um conceito que me atrai muito. Essa discussão a respeito do Doctor, o homem que corre e acaba deixando tanto para trás, e seu contraponto, uma mulher imortal que cuida daqueles a quem o Doctor um dia tocou, mas que acabou abandonando.
E ela ainda aparece no final do episódio, numa selfie que a Clara tira com uma aluna, demonstrando que continua cumprindo sua promessa, ou seja, está de olho na Clara e estará ali, por perto, para o que for preciso.
A personagem já foi confirmada em mais um episódio dessa temporada, o décimo, o que me deixa animada, já que vamos saber mais um pouquinho da personagem. Que sensação boa poder dizer que eu realmente gostei de um episódio de uma série que eu amo tanto! <3
Ai, lá vou eu discordar de você. Eu achei esse episódio bem morninho, bem zzz. De verdade. Mas acho que foi porque eu criei expectativa demais em cima dele, sabe? Eu fiquei super empolgada com The Girl Who Died e acabei me frustrando na continuação (que não foi uma continuação e que sequer foi escrita pela mesma pessoa do episódio anterior!!!!) A mensagem abordada no episódio é super linda e válida, mas isso é um padrão na série. Sei lá, não curti muito o episódio. Mas também não senti falta da Clara, acho que Lady Me foi uma excelente companion… Ler mais
Hahaha, mas ainda bem que a gente discorda, o legal de Doctor Who é poder discutir sobre as mais diferentes opiniões! Eu realmente gostei muito desse último episódio, mesmo concordando com você sobre esse tipo de mensagem ser algo meio padrão na série.
Acho que eu estava sentindo que nos últimos episódios a gente não teve tanto disso, sabe? Talvez seja esse o motivo pelo qual eu gostei tanto dele.
E gostando ou não, a gente sempre tem o episódio da semana que vem para assistir, né? 😉
Mari, concordo com você em tudo! – Surpresa! Realmente, acho que este foi o melhor episódio da série. Lady Me é convincente, a personagem é forte e coerente, e como eu disse na semana passada, essa raiva dela era de se esperar. Mágoa! En passant, vou dizer que a batalha de Azincourt, em que ela lutou, foi a batalha final da guerra dos 100 anos, romanceada por Shakespeare e Bernard Cromwell. E que o arco longo foi o diferencial para a Inglaterra vencer… Outro detalhe, gostei quando o Doctor disse, “Welcome back!” quando ela começou a se importar com as… Ler mais
Relendo meu comentário, desculpe, não, River não. Ashildr tem potencial de ser como a River, talvez, algum dia, se se esforçar muito…
Nossa, quando a gente concorda em tudo, realmente é uma surpresa. Mas ainda bem que a gente concorda às vezes e discorda outras, é sempre bom ter com quem ter uma boa conversa sobre uma série que a gente ama tanto, não é mesmo? Não sabia isso da batalha, que bom que você comentou aqui, adoro conhecer um pouco mais sobre a história, ainda mais quando ela me ajuda a entender o episódio melhor. Pois é, gostei muito mesmo da maneira como a personagem foi bem desenvolvida nesse único episódio. Ashildr é bastante complexa e isso é sensacional, enriquece muito… Ler mais
Oi, Mari! Olha, no geral eu tô amando essa nona temporada (não sei como você se sente sobre ela porque é o primeiro post sobre Doctor Who que tô vendo aqui), e com esse episódio não foi diferente. Confesso que eu tava com uma baita preguiça de ver, talvez porque os teasers não tenham me chamado atenção, mas quando vi, amei. AMEI toda a transformação de Ashildr em Lady Me; só o conceito desse novo nome que ela resolveu adotar já é uma coisa a se refletir. Achei que ela foi escrita brilhantemente e tô super ansiosa pra saber em… Ler mais
Oba, mais gente que assiste DW para discussão dos episódios! <3 Sim, realmente o episódio e a maneira como a Lady Me foi desenvolvida foram muito interessantes. E eu já tinha ouvido falar do spoiler sobre a Clara, mas ainda não é nada confirmado, né? E se eu tivesse que adivinhar, diria que se a Clara não morrer, será algo muito parecido, uma dessas mortes-não-mortes que parecem ter virado corriqueiras em Doctor Who. Afinal, o Moffat gosta de brincar com o conceito de morte, mas matar efetivamente alguém que é bom… só o Danny mesmo, coitado. 🙁 E próxima semana… Ler mais